quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Solos e Sementes - Missão Transcultural


   Determinadas sementes, se lançadas ao léu sem que se considere o solo, serão desperdiçadas. O período inicial de missões transculturais deve se assemelhar ao período do conhecimento do solo antes da escolha das sementes. É preciso conhecer e preparar alguns terrenos para saber o que deve ser ali lançado.

    Sem jamais esquecer de posicionar a operação poderosa do Espírito Santo e a necessidade de oração como as carências mais fundamentais de missões, nestes primeiros meses tenho constatado na prática a pertinência de algumas das mais importantes recomendações missiológicas: Adaptação a cultura e o domínio da língua devem preceder a presunçosa "comunicação do evangelho".

    Um problema básico é que grande parte da ineficácia missionária atual deve-se ao fato de que muitos não se dão conta de que a sua própria formatação de proclamação do evangelho está viciada de compreensões, aplicações e influências de sua própria cultura. Misturamos com o essencial o que é muitas vezes relativo e chamamos de puro o que está impregnado de partículas culturais. Assim, o contato com o incrédulo de uma outra cultura é perdido sem que haja real comunicação do evangelho, ou pelo menos, sem que haja uma compreensiva comunicação para o que ouve a mensagem.

   Uma questão mais profunda é considerar a identidade cultural daquele que nos ouve. Apesar de vivermos hoje num mundo globalizado com muitas facilidades de intercâmbios internacionais, cada etnia específica ainda conserva particularidades distintivas determinantes - não apenas relacionadas aos meros usos e costumes, mas especialmente quando se tratam de questões de valores morais, filosóficos, sociais ou religiosos. 

   Assim, a adaptação e conhecimento profundo da visão de mundo vigente de determinada cultura, relacionada a estes aspectos, é fundamental para que deslizes aparentemente sutis, mas de conseqüências devastadoras, sejam evitados nos relacionamentos interpessoais.

   Venho do Brasil, de uma cultura popular ainda relativamente Católica ou Evangélica, onde para as grandes massas o conceito da crença em Deus é um pressuposto certo, e onde o conceito da verdade  e de valores morais ainda são discutidos sobre bases absolutas. Aqui em Paris, porém, serei completamente descreditado se pressupor interlocutores que raciocinem desta forma.

   Sua história filosófica trouxe a cultura vigente desta nação à produção de cidadãos com uma visão de mundo pragmática em relação ao cotidiano, mas extremamente cética, pessimista e relativista no que diz respeito aos valores morais, propósito para existência, ou significado para religião ou mesmo verdade.

   Conversando com alguns líderes cristãos por aqui e enfrentando esta realidade, tenho percebido que o aprofundamento do estudo em Apologética representa uma excelente forma de preparo para discussões entre o Sistema de Pensamento do Cristianismo Bíblico e a mentalidade pós-modernista.

  No entanto, desde que os aspectos culturais estão profundamente conectados à linguagem - pois mesmo as palavras possuem particularidades de compreensão em relação à sua própria cultura -, a necessidade de se dominar a língua torna-se duplamente fundamental.

    Desta maneira, incentivo a todo cristão missionário transcultural a jamais menosprezar a importância destas duas recomendações: 
- Vá até as raízes da adaptação cultural procurando compreender e até mesmo a "raciocinar" com a cabeça de seus novos concidadãos; viva o cotidiano, trabalhe por um período, mergulhe na cultura.
- Vá até o fim no curso de língua, despegue-se do aprendizado meramente tradutor e pense as palavras como seu novo país a pensa.

   Em meu caso pessoal, fica a cada dia mais claro a importância do curso de francês e o estudo da Apologética para atender as necessidades do povo Francês. Preciso conhecer com que tipo de solo estou lidando para escolher direito as sementes.

Paulo Pregando em Atenas - de Raphael

  Anseio pelos dias em que os missionários sejam menos cobrados para "mostrar serviço" precipitadamente e sejam fortemente incentivados a separar tempo para mergulhar na cultura e aprender a língua a fim de não se tornarem pedra de tropeço. Limitações comparativas à parte, nosso Senhor Jesus aguardou em torno de 30 anos para iniciar seu ministério público. Também não são poucas as vezes que encontramos no Novo Testamento os apóstolos adaptando o formato [não a essência] de seu discurso de acordo com a cultura de seus ouvintes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário