Paris: Missão de Luxo?!

  Toda fase de adaptação a uma nova cultura tem suas vantagens e desvantagens. Temos consciência dos benefícios de vivermos agora numa nação de primeiro mundo e numa cidade de tanta riqueza cultural e histórica e sabemos ser injusto apenas mencionar dificuldades de se viver em Paris. Porém, visto que o glamour de seus benefícios é praticamente um senso comum, nesta postagem, tocaremos um pouco no seu lado menos conhecido.

   Somente o turista e o milionário não enxergam além dos luxos e delícias de Paris. Todo romantismo das primeiras impressões dos que tem a maravilhosa oportunidade de uma breve visita à Cidade Luz é paradoxal com a realidade de morar por aqui. Vir pra cá com data para voltar, hospedar-se em hotel e desfrutar dos pontos turísticos é sinônimo de profundo privilégio e alegria; mas  viver como missionário em Paris é diferente do que muitos pensam.

   Sendo uma cidade super-populosa e extremamente turística, Paris exige que se pague muito caro para se morar em apartamentos muito velhos e bem apertados (nós, por exemplo, moramos num quarto e sala de 30m²  por 1100,00 €/mês). Com o tempo, também fica mais difícil e cansativo lidar diariamente com o temperamento arisco do povo francês; o costume tira dos pontos turísticos seu poder  de desviar nossa atenção da poluição; a paciência é progressivamente exercitada nos metrôs lotados; e se nota com mais pesar a grande quantidade dos estrangeiros mendicantes marginalizados. Além disso, para nós que viemos do Rio, não tínhamos idéia do quanto apenas lançar os olhos sobre a vastidão do mar ou para a diversidade das montanhas representariam um alento profundo nesta longa planície massificada de prédios.

   Outra dificuldade de adaptação pessoal tem sido a quebra com a rotina da vida ministerial ativa de quando deixamos o Brasil para esta fase de tantos recomeços. Em meio à coordenação dos Surfistas de Cristo, os serviços como pastor auxiliar na IPBarra e liderança do ministério de jovens, eu estava com uma regularidade de pregações e reuniões evangelísticas entre 4 e 5 vezes por semana. Por aqui é momento de muito estudo e oração – o que tem sido muito bom – mas tenho que lutar constantemente contra a falsa impressão de que estas coisas são menos importantes ou frutíferas.

   

   Somar a estes fatores as coisas que mais nos fazem falta da “terra e parentela” que ficaram para traz – como família, amigos, uma situação de vida bem mais confortável e ativa, nossa igreja local, cultura, a beleza natural do Rio, etc – ajudariam a mensurar esta grande dificuldade de adaptação.

   É somente pela profunda convicção de que estamos diante de um povo extremamente carente do evangelho (“como ovelhas que não tem pastor pastor”- Mt.9:36 ); de que as dificuldades são elementos inerentes à missão cristã ("Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" Jo.16:33.) ; de que temos sido incumbidos da obra número1 do Senhor (“Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”- Mc.16:15); de que aquele que nos tem arregimentado nos promete sua companhia e triunfo (“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra... e eis que estou convosco todos os dias”- Mt.28:18-20); de que nada pode melhor nos satisfazer nesta vida do que pregar o evangelho (“minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra”- Jo.4:34); e que com esta obra estaremos abreviando a espera para o momento mais feliz da humanidade redimida (“E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”– Mt.24:14); que encontramos força e motivação para prosseguir pela fé nesta empreitada. Contamos verdadeiramente com sua oração em relação a estas dificuldades de adaptação.

Satisfeito Pela Verdade - Por David Romer